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A desigualdade social por trás de cursos milagrosos online


Arte: Camila Queiroz

É de conhecimento popular que na descida todo santo ajuda, mas na subida? Nos últimos dois anos, com ênfase para o período pandêmico do Covid-19, o crescimento avassalador de plataformas de comercialização e distribuição de produtos digitais viu os seus focos de investimentos serem direcionados ao mercado de produção e distribuição de cursos online. Com o dinheiro entrando exorbitantemente, refletir a qualidade e a veracidade dos conteúdos vendidos nunca pareceu ser uma preocupação dos executivos à frente destas plataformas, abrindo assim passagem para uma onda de falsos profissionais de diversas áreas gerando lucros com a venda de cursos sem pé e nem cabeça.


O slogan da maior empresa do segmento, Hotmart, já fala muito por si só: "Aprenda o que quiser, ensine o que souber". Na estrutura deles, há o produtor de conteúdo, há o afiliado que divulga e ganha comissão em cima do curso vendido e, por fim, o consumidor, três pilares que rege uma estrutura puramente lucrativa e que depende de uma divulgação externa ao seu site. Assim como a líder da área, a Udemy é outra companhia que cresce a passos largos, porém, com o acréscimo de que ela mesma conecta os consumidores aos realizadores.


Onde está o problema e a solução?

Quando realizados por não profissionais da área qualquer tema segue para um caminho de inconsistência didática e informativa, o problema é que nem todas as pessoas conseguem notar que estão caindo no conto do vigário, principalmente as que estão mais necessitadas de uma mudança financeira urgente. Segundo dados do Instituto Coursify, a classe média baixa é a maior consumidora de cursos de “Desenvolvimento Pessoal” no Brasil, que, por coincidência, é onde há o maior número destas ações duvidosas. A título de análise, “Melhore a sua vida financeira” e “Tenha alta produtividade de maneira simples” foram títulos de cursos reais feitos por não profissionais e que estiveram por meses entre os mais vendidos em um dos sites do gênero.

A classe média baixa é a maior consumidora de cursos onde há o maior número destas ações duvidosas.

Cursos como "O empreendedorismo do macho alfa" sendo ensinado por um adolescente que ainda mora com os pais até o “Supere a depressão e ansiedade com esses dez passos” realizado por uma blogueira sem formação superior ou conhecimentos mínimos sobre a área da psicologia. Porém, quando olhamos para o mercado fora do eixo imediatista, onde há interesse de classes sociais minimamente mais elevadas da citada acima, é possível enxergar uma solução retórica para todo o problema descrito até aqui: conhecimento tem o seu valor marcado na especificidade. As áreas de programação ou design, por exemplo, têm conteúdos característicos que somente um profissional experiente poderia conhecer minimamente a linguagem, quanto mais desenvolver e acrescentar informações para vendê-las. Ressalto, inclusive, que a Hotmart e Udemy possuem conteúdos de altíssimos níveis e que o assunto tratado neste texto é direcionado para exceções que têm ganhado força.


Em outras palavras, se não há como impedir que um sistema afortunado de dinheiro e de informações frágeis continue crescendo e alcançando novos desesperados desavisados, que pelo menos seja feito um direcionamento popular para cursos, professores e até mesmo sites de maior confiabilidade. A catalã Doméstika, por exemplo, seleciona os professores através de suas formações e experiências na área, vai até eles, produz as gravações das aulas e, por fim, realiza a divulgação e venda do conteúdo, seguindo um padrão tanto estético quanto de qualidade, contudo, focada em materiais artísticos. Quem segue o mesmo caminho da empresa espanhola é a brasileira Navega, que contabiliza poucos cursos mas muito conteúdo de qualidade, com foco no audiovisual.

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