Coluna por Jefferson Sousa
Não há um texto na internet ou nos impressos que não fale o óbvio sobre o período que estamos passando: está difícil e precisamos nos adaptar. A Covid-19 e o tal "novo normal", conceito de adequação de vida para os tempos de pandemia, necessita por si só de muita dedicação dos seus envolvidos para deixar tudo parecido como estava. Neste quesito, o mundo da criminalidade online não ficou para trás. Assim como o constante crescimento de casos confirmados de coronavírus no Brasil a cada dia, os golpes cibernéticos se propagam facilmente por todos os meios possíveis perante a despreparada capacidade do governo de monitorá-los.
Ainda em abril de 2020, a Febraban, Federação Brasileira de Bancos, já estipulava o crescimento de 44% somente nos golpes envolvendo algum banco diretamente ou indiretamente, como roubo de dados de cartões de créditos ou débitos. Falso Auxílio Emergencial, cliques atraentes contendo vírus - desconfie de qualquer mensagem com link externo enviada por alguém não próximo -, sites falsos de vendas e falsos empréstimos, o que não faltam são exemplos. Para examinar de perto esta aglomeração criminosa, resolvi testar os golpes para entendê-los melhor.
Testando um golpe
"Inovação é a palavra do momento, você merece conquistá-lo", esta frase, que mais parece ter saído das tantas contas no Instagram de consultores de empreendedorismo sem formação, estava estampando um anúncio de um "Notebook Gamer Acer" de última geração no Mercado Livre por um preço bem abaixo do normal. Resolvi então realizar a compra já ciente do possível golpe, avisando previamente ao meu banco da compra indevida.
Ao realizar o pagamento, como de costume, o Mercado Livre me direcionou para um chat com o vendedor, mostrando o seu número de telefone e CPF. A primeira curiosidade é que no anúncio dizia "envio imediato", já adiantando que o despache seria pelos Correios, quanto era o custo do serviço de entrega e quanto tempo levaria, porém, ao passar para a próxima fase do negócio, o site modificou para "Combinar o envio com o vendedor".
Entrei em contato pelo chat e não fui respondido. Ao ligar pelo telefone disponibilizado, falei com um homem que me contou já ter usado o Mercado Livre para realizar uma venda, mas que isso tinha sido há dois anos e não era um notebook. "Trabalhava com confecção de copos temáticos e, se bem me lembro, fechei de vez a minha conta por lá nessa época", disse o dono do tal número. Usando o CPF que me foi disponibilizado pelo ML, pesquisei a numeração no Google e acabei em uma lista de aprovados em um concurso público, todos com o CPF disponível ao lado dos seus respectivos nomes.
Caí no golpe! E agora?
No meu caso, o banco conseguiu estornar o valor por uma solicitação especial que já tinha sido realizada antes da compra, porém, mesmo havendo diversas ações efetivas que podem ser solicitadas após uma investida de um larápio digital, é bom estar atento para as especificidades de segurança de cada banco, cartão e, acredite ou não, boa vontade da justiça local.
Rafael Rocha, advogado criminalista, no seu artigo "Principais Golpes em Tempos de Quarentena", pontua que ser lesado nesse momento pandêmico traz mais dores de cabeça do que noutros tempos pela demora e dificuldade de resolver o problema, já que a maioria dos órgãos que podem fiscalizar casos como estes estão fechados ou operando com um pessoal muito reduzido, como os Procons, delegacias, e a própria justiça.
"Quando o nosso cliente nos envia comprovações de um possível golpe, orientamos detalhadamente quais ações devem ser realizadas. Por exemplo, este caso [o do Mercado Livre acima] não se enquadra em fraude, já que não houve roubo de dados mas sim uma quebra de acordo no momento em que o vendedor se recusou a enviar o material. Sendo assim, é enviado as comprovações para o site que realizou a venda e nós disponibilizamos um crédito de confiança ao cliente no valor de todas as parcelas referentes ao que foi ou será gasto", explicou a equipe Nubank Brasil.
As comprovações mencionadas pela empresa podem ser as mais simples que sejam, desde que contenham o material necessário. Por exemplo, prints da conversa com o vendedor no chat do serviço de compra e na conversa WhatsApp feita através do número recebido após a efetuação da compra - mesmo que o bendito te deixe no vácuo. Mesmo não havendo um aviso público do ML, é aconselhado pela Defesa do Consumidor que nunca seja efetuada compras onde o envio só será combinado após o pagamento do produto.
O caso da compra que não foi enviada é só um exemplo dentre o leque de inovações criminais que estão em andamento. A PSafe, empresa global de segurança no ciberespaço, estipula que em torno de 42 milhões de pessoas já receberam ou acessaram links falsos no Brasil durante a quarentena, tornando-se vítimas diretas ao perder algo financeiro ou indiretas ao ter as suas informações utilizadas como massa de manobra para gerar novas vítimas. A única solução apontada pelos estudiosos é a de desconfiar de tudo, principalmente de links que te oferecem prêmios, do contrário, quem estará sendo premiado será o trambiqueiro.
Comments