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O papel dos jornalistas em meio à pandemia

Atualizado: 15 de abr. de 2020



À esquerda uma mão segurando um microfone e a outra segurando um megafone.

Arte: Gabi Leal


Por Amanda Borba Beber bastante água; tomar chá de limão com alho; usar óleos essenciais; gargarejo de água, sal e vinagre; tomar antigripais; manter uma rotina normal e fazer exercícios ao ar livre. Se você tem a certeza de que nada disso são medidas de prevenção ou proteção contra o novo coronavírus, agradeça ao jornalismo de qualidade. Quando uma doença se dissemina, é verdade que a vida pode mudar em instantes; a sociedade se sente insegura, desconfiada, e o medo pode se espalhar tão rápido quanto a própria doença. Em um contexto como esse, as notícias passam a ter um papel muito importante: garantir que o tecido social não se deteriore. Ao fugir do controle, uma pandemia não apenas é terrível pelo número de vítimas que acomete, mas também porque desestabiliza os regimes de certeza de uma comunidade. As notícias falsas podem ajudar a espalhar uma doença. O jornalismo, além da instância informativa, possui uma força de verdade capaz de manter, modificar e construir o contexto social a que pertence. Pelo acesso preferencial ao discurso público, a mídia encontra-se em um locus privilegiado, que pode fazer chegar aos cidadãos informações de interesse público e credibilidade. Graças aos jornalistas, estamos cientes da gravidade da situação causada pela pandemia do Covid-19 e podemos nos movimentar na direção de superar esse momento. Graças a eles também, sabemos como fazer isso: ficando em casa – além de seguir todas as outras orientações de segurança e higiene divulgadas pelos órgãos competentes. O presidente Jair Bolsonaro, entretanto, com sua medíocre argumentação pró-economia, posicionou-se, recentemente, a favor do que chamou de isolamento vertical, contra o bom senso e à saúde dos brasileiros – o que só surpreendeu (talvez) seus eleitores. Além de falar explicitamente, em um pronunciamento em rede nacional, que o vírus que matou mais de 30 mil no mundo não passa de uma “gripezinha”, de um “resfriadinho”, sustentou seu ponto de vista com ataques aos veículos de comunicação, em um atitude não apenas antidemocrática, mas – e principalmente – perigosa. Felizmente, o Governo brasileiro voltou atrás em sua atitude genocida, mas não sem antes marcar na memória de muitos brasileiros uma campanha irresponsável, que chamou a população às ruas com os dizeres “O Brasil não pode parar”. Não precisa ser economista para saber que não se faz política econômica a troco de vidas – e esse é um cálculo muito simples. Temos alguns exemplos na História que já deixaram isso bem claro. E isso não quer dizer que não seja preocupante o nosso futuro próximo, mas não chegaremos a ele se não pensarmos no presente, na saúde das pessoas, em resguardá-las como seres humanos e não apenas mão de obra, força de trabalho. E se essa campanha do irresponsável Jair não deu certo, coloco boa parte da marcha à ré do Governo na conta dos jornalistas, que, a essa altura, junto com os profissionais de saúde e agentes de limpeza, são também grandes heróis dessa história. Foram os meios de comunicação que trouxeram todas as descobertas e informações da comunidade científica à tona, ao público, juntamente com as orientações de órgãos realmente competentes, como a Organização Mundial de Saúde. Do Oiapoque ao Chuí, não há quem não saiba do que estamos vivemos.


Ah, e quando tudo isso passar, e a mídia puder convocar todos às ruas, é importante que estejamos – ao contrário de hoje – de mãos dadas, pois a nova fase que se iniciará exigirá de nós um posicionamento político forte, que não prevê essa figura que está aí como presidente de um Brasil que arrastará ainda mais miséria.

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